Autocuidado

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O autocuidado tem ganho cada vez mais relevância no debate sobre saúde pública e longevidade. Em uma sociedade que envelhece rapidamente, como a brasileira, a preocupação não pode ser apenas com o aumento do tempo de vida, mas principalmente com a qualidade de vida ao longo dos anos.

Mas o que é o autocuidado em saúde?

A Organização Mundial da Saúde (OMS/ WHO) define o autocuidado como a capacidade de indivíduos, famílias e comunidades para promover a saúde, prevenir doenças, manter a saúde e lidar com enfermidades com ou sem o apoio de um profissional de saúde1.

É um subdomínio da alfabetização em saúde e engloba conhecimentos, motivações e competências necessárias para que os indivíduos tomem decisões informadas sobre sua saúde2.

"O autocuidado em saúde como uma estratégia essencial de saúde pública."

Por que o autocuidado em saúde é importante?

A literatura demonstra que fortalecer o compromisso do autocuidado em saúde traz resultados importantes como3-13:

  • Ampliar o conhecimento das pessoas para lidar com a sua saúde
  • Maior probabilidade de buscar auxílio médico de forma precoce, mediante o (re)conhecimento de sinais de alerta para certas condições de doença
  • Pacientes mais participativos durante as consultas
  • Melhor adesão aos tratamentos farmacológicos prescritos e orientados
  • Diminuir o número de visitas desnecessárias às unidades de pronto atendimento
  • Evitar perdas de dias de trabalho
  • Reduzir o volume de exames laboratoriais desnecessários
  • Garantir que os recursos (humanos e econômicos) sejam concentrados nas esferas de maior necessidade e complexidade



Em termos de impacto positivo para a sociedade, investir no autocuidado em saúde é uma abordagem eficaz para a promoção da saúde, prevenção de doenças e sustentabilidade dos sistemas de saúde no Brasil, na América Latina e no mundo. Confira os dados de uma análise financeira que demonstrou que as práticas atuais de autocuidado geram econômicas significativas e melhorias na qualidade de vida na região da América Latina, além das projeções para 20306.

"O autocuidado é um caminho poderoso para promover saúde, bem-estar e fortalecer a sustentabilidade dos sistemas de saúde, afinal cuidar de si é cuidar do futuro!"

Existem produtos para o autocuidado em saúde?

Sim, e são produtos diversos, regulados pela vigilância sanitária e que podem ser utilizados sem a exigência de supervisão de um profissional da saúde (tanto médico quanto não médico) e que possuem alegações terapêuticas ou de saúde, baseadas em evidências que comprovem sua segurança e eficácia.

Conheça um pouco mais sobre os produtos destinados ao autocuidado:

  • suplementos alimentares
  • dermocosméticos/protetores solares
  • produtos de higiene geral e pessoal (como por exemplo higiene bucal)
  • produtos para o cuidado íntimo (como por exemplo absorvente e protetor, sabonetes e géis de higiene íntima, preservativo e produtos para incontinência urinária)
  • soluções oftalmológicas
  • vacinas
  • autotestes
  • dispositivos médicos/ tecnológicos (como por exemplo monitores de batimentos cardíacos e aparelhos para medir os níveis de glicose no sangue)
  • medicamentos isentos de prescrição (MIPs)

Em linhas gerais, os produtos destinados ao autocuidado envolvem os recursos para o gerenciamento seguro e eficaz da saúde do indivíduo e quaisquer doenças cotidianas ou males menores ou problemas de saúde com menor gravidade e complexidade14.

Indivíduos e suas famílias
Indivíduos e suas famílias
Médicos
Médicos
Farmacêuticos
Farmacêuticos
Governo
Governo

"Autocuidado é tudo aquilo que o paciente faz, com ou sem orientação, para cuidar da própria saúde no cotidiano."

Em quais situações posso aplicar o autocuidado em saúde?

De modo amplo, os principais problema de saúde autotratável se referem a condições autolimitadas, de baixa gravidade clínica, alta prevalência e baixa complexidade diagnóstica e terapêutica, que podem ser manejadas com orientações ou, em alguns casos, com medicamentos isentos de prescrição (MIPs) e/ou produtos destinados ao autocuidado.

E as situações e os exemplos típicos onde podem ser adotadas medidas de autocuidado em saúde são4-6,14-17:

  • Resfriado e gripe comum
  • Dor de cabeça / cefaleia
  • Dor lombar
  • Tosse
  • Azia e indigestão (dispepsia leve)
  • Febre
  • Alterações de motilidade intestinal (diarreia e constipação)
  • Rinite/sinusite
  • Congestão nasal e desconfortos oculares
  • Eczema
  • Infecções de garganta, ouvido
  • Distensões e entorses

Vale a pena reforçar que os sintomas descritos apresentam todas as características de problemas de saúde autotratáveis18:

  1. Autolimitadas – evoluem de forma benigna e tendem à resolução espontânea em curto prazo, mesmo sem intervenção médica direta.
  2. Baixa gravidade – não representam risco imediato à vida nem risco de sequelas significativas.
  3. Alta frequência – são condições comuns na população, muitas vezes relacionadas ao cotidiano.
  4. Baixa complexidade de manejo – podem ser tratadas com medidas de autocuidado - ao alcance do consumidor, em autosserviço em farmácias e drogarias - e orientação de profissionais de saúde.

E na vigência de persistência e/ou piora dos sintomas, assim como a presença de outras manifestações clínicas referente a intensidade e frequência, são situações de alerta para o encaminhamento ao serviço de saúde para consulta médica.

A ACESSA, via “Declaração de São Paulo sobre o Autocuidado para a Cobertura Universal de Saúde”, apoia campanhas de conscientização pública que promovam o letramento em saúde, capacitando indivíduos a se envolverem no autocuidado de maneira responsável e eficaz. Isso inclui aumentar a conscientização sobre intervenções de autocuidado que abordem desafios de saúde, incluindo a temática de autovigilância, autogerenciamento, automedicação responsável, rotulagem e comunicação centradas no consumidor.

Com a palavra autocuidado cada vez mais incorporada às estratégias de mais qualidade de vida, reconhecer os sinais do próprio corpo, buscar conhecimento de qualidade e ter responsabilidade nas escolhas de produtos e serviços são etapas fundamentais para a tomada de decisões sobre a própria saúde. 

"Informação, responsabilidade e acesso adequado aos produtos e medicamentos são fundamentais para transformar o autocuidado em saúde em uma escolha consciente e segura."

Referências Bibliográficas

Fontes e referências usadas.

1. WHO guideline on self-care interventions for health and well-being, 2022 revision. Geneva: World Health Organization; 2022. PMID: 35914064.

2. Kim K et al The Relation Between eHealth Literacy and Health Related Behaviors: Systematic Review and Meta-analysis. J Med Internet Res. 2023;25:e40778. doi.org/10.2196/40778

3. Ferguson L et al. The ubiquity of 'self-care' in health: Why specificity matters. Glob Public Health. 2024;19(1):2296970.

4. WHO guideline on self-care interventions for health and well-being, 2022 revision. Geneva: World Health Organization; 2022. PMID: 35914064.

5. Bell J et al. Self-Care in the Twenty First Century: A Vital Role for the Pharmacist. Adv Ther. 2016;33(10):1691-1703. doi: 10.1007/s12325-016-0395-5.

6. ILAR. El valor social y económico del autocuidado en América Latina. 2022. Disponível em: https://static1.squarespace.com/static/6175aa74c8e33e3a7fd45f2f/t/635812dfc4fc4b4ba13b0cea/1666716386598/22+Valor+SociEc+Autociudado+LATAM-comp.pdf

7. Frontier Economics. The economic impact of over-the-counter products in the UK. 2023. Disponível em: https://www.pagb.co.uk/content/uploads/2023/07/20230712-Frontier-PAGB-OTC-Impact-Report-v1-0.pdf

8. Rodrigues, AC. Utilização de medicamentos isentos de prescrição e economias geradas para os sistemas de saúde: uma revisão. Jornal Brasileiro De Economia Da Saúde, 2017: 9(1), 128–136.

9. ILAR. El Valor Económico del Autocuidado de la Salud. 2019. Disponível em: 
https://static1.squarespace.com/static/6175aa74c8e33e3a7fd45f2f/t/61917dbc09fa061e5d6f72b1/1645630446417/Estudio-Valor-Economico-Autocuidado-ILAR.pdf

10. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Prevenção e Promoção da Saúde. Autocuidado em Saúde e a Literacia para a Saúde no contexto da promoção, prevenção e cuidado das pessoas em condições crônicas: guia para profissionais da saúde, 2023.

11. Baccolini V et al. The association between adherence to câncer screening programs and health literacy. Prev Med. 2022;155: 106927. doi:10.1016/j.ypmed.2021.106927

12. Aboumatar HJ et al. The impact of health literacy on desire for participation in healthcare, medical visit communication, and patient reported outcomes among patients with hypertension. J Gen Intern Med.2013;28(11):1469 1476. doi:10.1007/s11606-013-2466-5

13. Persell SD et al. Associations between health literacy and medication self-management among Community healthcenter patients with uncontrolled hypertension. Patient Prefer Adherence. 2020;14:87-95. doi:10.2147/PPA. S226619

14. PAGB. The consumer healthcare association. Report. New Self-Care Survey Report: Take care of yourself and the NHS. 2023. Disponível em: https://www.pagb.co.uk/content/uploads/2024/01/PAGB-Self-Care-Survey-2023.pdf

15. McGowan P. Self-care behavior. Retrieved from Gale Encyclopedia of Public Health. 2014. Disponível em: https://www.encyclopedia.com/education/encyclopedias-almanacs-transcripts-and-maps/self-care-behavior

16. Frontier Economics. The economic impact of over-the-counter products in the UK. 2023. Disponível em: https://www.pagb.co.uk/content/uploads/2023/07/20230712-Frontier-PAGB-OTC-Impact-Report-v1-0.pdf

17. Rodrigues, AC. Utilização de medicamentos isentos de prescrição e economias geradas para os sistemas de saúde: uma revisão. Jornal Brasileiro De Economia Da Saúde, 2017: 9(1), 128–136.

18. Conselho Federal de Farmácia (CFF). RESOLUÇÃO Nº 586 DE 29 DE AGOSTO DE 2013. Ementa: Regula a prescrição farmacêutica e dá outras providências.